quarta-feira, 4 de maio de 2011

O problema de não se ter mãe - Especial Dia das Mães - Parte I

Como já disse aqui, quando minha mãe faleceu foi horrível, claro. Porém, se fosse HOJE sofreria bem mais a ausência dela, do que quando eu tinha apenas 11 anos de idade.
Doia?Sim, com certeza. Mas na época eu não sabia dizer exatamente como aquilo se chamava.
A pior parte disso tudo, foi a escola.
Encarar a escola, depois que sua mãe falece, é como ir a um campo de batalha. Lembro que, meu pai foi comigo e conversou com o pessoal da escola, para pegar leve comigo, porque não sabia como eu iria reagir, por conta do trauma, etc.
Me lembro que, uma colega veio me perguntar, ela já sabia pois morava perto da casa da minha avó, ela foi delicada e veio me dar uma palavra amiga, mesmo tendo apenas 11 anos. Quando me perguntavam, já sabendo do ocorrido, minha resposta era automática: "É".

A partir daí, durante um longo tempo, me trataram como coitadinha, a menina sem mãe. Aqueles olhares de piedade e atitudes zelosas, me irritavam mais naquilo tudo.
Mas o pior, estava por vir. Até porque, todo ano tem dia das mães.

E ai?O que eu faria no meio daquilo tudo? Junto com a lembracinha de dia das mães da escola, vinha uma professora falando " você tem vó?entrega para ela" e aquele mesmo olhar.

Depois, conforme os anos passaram, fui me acostumando, os olhares mudarem de olhar de coitadinho, para olhar de espanto. Eu tinha meu dinheiro, tinha um pouco de revolta também, mudei de escola. Pedi, chorei, briguei, não aguentava mais aquela escola. E mudei para o Colégio Adventista, no último ano do Ensino Fundamental.

E descobri, que se ta ruim... piora!

Um lugar cheio de meninas mimadas, que tinham a grana dos pais para gastar, em média, garotas de 14 anos que a atividade principal de toda tarde era ir no shopping, comprar uma bolsa Channel, e eu, crescendo com meu pai e meu irmão, de vaidade não entendia nada!

Então quando descobriram que eu não tinha mãe, pronto! Colégio evangélico, você não tem mãe, ta explicado!
Dai me tornei a menina sem mãe-revoltada-que anda com os meninos.
Cansei daquele lugar, de tirar nota baixa, medo de perder um ano. Voltei para a escola anterior. E me senti em paz.

E então, comecei a assimilar tudo. Eu era a menina sem mãe que não era coitadinha, não mesmo!
Sai do Ensino Fundamental empurrando com a barriga. E fui estudar em um lugar, aonde, não se importavam se eu tinha ou não mãe.

Entrou em cena, outra pessoa, minha madrasta. Tentou de tudo para apagar a memória da minha mãe, tanto em mim, quanto no meu pai. Se ela nos fez bem?Nenhum pouco. Começou as brigas em casa, eu saia toda noite, repeti um ano na escola, e até o dia que ela me bateu. Ai foi o fim. Fui embora de casa. Por uma noite. No outro dia meu pai ligou, pediu para eu voltar, e mandou ela embora.

Mas dai já era um pouco tarde, eu já saia, gastava, noites nos bares, e não me arrependo não. Eu vivi o que muita gente com seus trinta e poucos, não viveu. Se isso é bom? Mais pra frente eu vou saber né?

O fato é, se minha mãe estivesse aqui, tudo isso não teria acontecido. ÓBVIO que preferiria ela aqui comigo, mas será, que se ela estivesse aqui, eu não seria uma pessoa acomodada?Uma mimada? Sera que eu teria aprendido, metade das coisas que aprendi até hoje?


As pessoas são crueis. Mas a gente - sem mãe - aprende a passar por cima disso!

5 comentários:

Tassi Bach disse...

Talvez se ela ainda estivesse aqui tu não seria uma pessoa acomodada, talvez ela te ensinaria coisas sobre a vida, mas sem essa dor toda. Eu ainda tenho uma mãe, que foi meio mãe de merda ausente durante a minha infância e adolescência. Me revoltei com ela, principalmente depois que me tornei mãe, mas hoje eu sei entender ela, as motivações que fizeram ela se afastar de nós. Enfim, com mãe ou sem, agente aprende o que precisa aprender, mas com a nossa mãe do nosso lado, fica tudo mais light, saca? Bjão!

Layana disse...

Muita coisa na sua vida parece com a minha. também por não ter mãe vivi muitas coisas fora de casa e amadureci. Mas preferia sim ter estado com ela, ter vivido protegida como minhas amigas, ter batido perna com ela em shopping, ter aprendido a vaidade com ela e até brigado - claro que ia ter briga né?.
Enfim, a gente sobreviveu.
Beijos

Steph Ciciliatti disse...

Mude o "mãe" por "pai"
Era uma rebeldia sem fim, a escola era um inferno...Sinto falta dele agora, não antes.

Pois bem, to viva e muito bem vivida.

Mas esse lance de dia das maes nas escolas, sou totalmente contra, justamente pelo olhar e a impressão que as pessoas ficam por aqueles que não tem mae ou pai.
Uma data como essa é intima, coisa de se comemorar em familia ( ou não).

Criss Ferrari disse...

Eu fui a menina da escola que perdeu a irmã mais velha num acidente de carro, e sim, a dor do cotidiano é pela etiqueta de coitadinha que dão para a gente! E resisti 12 anos, até que sai da invisibilidade e me tornei a pedra no sapato e "me repetiram" e me fizeram mudar de escola. Fiz os dois últimos anos de colegial aonde não importava de onde eu vinha e quem era minha família e como era composta. De leve, eu entendo a sua vivência e concordo que você não seria a pessoa que é. Outra coisa que estou querendo escrever há tempos: você é uma mãe maravilhosa, sem essa de mãe de merda, criando uma filha linda numa realidade verdadeira, com os seus recursos (não estou falando de $) com aquilo que você acredita ser digno, e está de parabéns.

Sílvia Renata disse...

Oi...
Tbm perdi alguem mto especial que faz mta falta... meu pai aos 11 anos e, tbm me revoltei um pouco, pq antes ele me criava numa redoma e depois me vi sozinha desprotegida no meio da selva humana... Talvez seja por isso que comecei a namorar tão cedo. Namoro meu marido desde os 12 anos e, posso dizer que ele era meu porto seguro, minha referencia masculina, aquele que me protegia dos olhares maliciosos de alguns homens... e assim como vc tbm gostaria de ter meu pai aqui, mas a ausencia dele me amadureceu e me fez aprender na marra o que era o mundo la fora...
Um abração...