quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Bater, pra que?



Eu cresci apanhando. Eu apanhei muito, de chinelo, tapa na boca, na bunda, varinha de pé de goiaba, espada de são jorge. Eu não era uma criança fácil. Mas, acima de tudo eu era uma criança.
Na qual, não podia competir com a força de um adulto, não podia revidar, podia correr... mas uma hora ou outra, aquela chinelada que eu não levei por correr, eu levaria quando eu menos esperasse.
Meus pais não eram ruins, eles eram pessoas ignorantes, sem informação.
Rolava sim muita conversa, e ameaças. De que se eu não fizesse tal coisa, eu apanharia.

Acredito que a palmada é algo cultural. Meu pai apanhou muito do pai dele, por coisas que as vezes nem ele havia feito, coisas que o irmão dele aprontava e era ele quem apanhava. E sendo algo cultural, ele crescendo nesse meio, ele aprendeu que era assim que funcionava. E criou eu e meu irmão assim.

Hoje com tanta informação que temos, é quase obrigatório quebrar essa corrente cultural. Eu poderia muito bem bater na minha filha, já que fui criada assim e estou aqui, viva.
E eu já bati. 
E o que eu senti ao fazer isso foi um grande arrependimento, com sentimento de falta de controle.
E é isso, bater é perder o controle. A autoridade, a moral, a razão.
Bater em uma criança, é agredir alguém que não sabe se defender, que não fez algo propositalmente que não tem ideia do que aquele ato que ela fez pode causar. E nós, adultos, temos essa consciência.

A Lei da Palmada esta para ser aprovada - ou não - mas aqui em casa já estamos nessa faz um bom tempo.
Sou humana, sinto raiva, perco o controle. Mas estou aprendendo a pensar antes de agir, e antes de agir contra a Beatriz. 
Hoje vejo que é possível educar sem bater. Sem ameaçar, e também sem gritar.
Porque muitos falam em não dar palmadas, mas gritam e xingam seus filhos, o que acredito que no fim, machuca do mesmo jeito.

Você sabe o que uma criança sente quando apanha?
Eu sei, eu já apanhei.
Você sente raiva. Raiva de quem te bateu. Muitas vezes, não entende o porque aquilo que você fez, fez com que você "merecesse" apanhar, você se sente um lixo, se sente humilhado.
Imagine uma criança que não tem capacidade emocional para lidar com isso.

Por isso digo: quem bate não educa, humilha.


Educar não é fácil. Dizem que é a parte mais difícil da maternidade. Realmente.
Envolve auto controle, autoridade, respeito, e informação. Força de vontade, e persistência.
A Beatriz é um pequeno furacão. Ela faz muita arte em casa, rabisca paredes, quebra coisas - pegou um microfone do marido e jogou na privada, microfone esse que custava 300 reais -, adora mexer nas coisas,  e eu não vejo isso motivo para ela apanhar. Vejo motivos para eu ficar mais atenta a educação dela, reforçar aquilo que explico para ela todos os dias, aquilo que acreditamos e que funciona para nós.

A ultima vez que apanhei eu tinha 15 anos, e eu não lembro o motivo exato.
Mas nunca vou me esquecer, uma vez que tinha por volta dos 10/11 anos de idade. Eu apanhei da minha mãe, chorei muito no quarto e fiquei com muita raiva. Peguei um caderninho que eu tinha e escrevi em todas as páginas " MÃE EU TE ODEIO". Alguns meses depois minha mãe faleceu. Imagina o arrependimento que eu fiquei?Lembro que a primeira coisa que eu fiz foi apagar tudo isso que eu tinha escrito, uma forma inocente minha de achar que ela voltaria.



Educar é necessário e preciso. Se for necessário deixar sem assistir tv, sem o brinquedo favorito, repetir milhões de vezes que tal coisa não se faz, repreender, FAÇA. Mas não me venha dizer que bater educa, porque bater DESEDUCA.






E o que você acha de tudo isso? É contra ou a favor?


Também já falei sobre isso aqui!

16 comentários:

Lucila disse...

Kira parabéns pelo texto.

Causou um momento de reflexão em mim, para rever meus conceitos.

Também apanhei quando criança, tive os mesmos sentimentos que você teve quando apanhou.

Também já bati, e me arrependi, me senti culpada, uma péssima mãe (e sem dúvida alguma eu fui!). Fico pensando até que ponto meu jeito agressivo foi resultado de eu ter apanhado na infância... Acho que tem uma ligação.

Mas é vivendo e aprendendo. Trabalho minha paciência todos os dias, para não agir contra minha filha e me arrepender depois (e muito!).

Gostei muito da forma como você colocou sua opinião aqui!! Um ótimo texto, parabéns!

Evelyn_mãe_da Sofia disse...

Não concordo que criança tenha que apanhar para ser educado, mas quando é preciso sou a favor! Não de bater para descontar raiva ou porque a criança quebrou algo valioso, mas já dei chinelada depois de falar trocentas vezes que não podia fazer tal coisa e a minha filha fez!! Meu ponto de vista!
Parabéns por conseguir!!

Renata disse...

Educar sem bater é mto mais difícil.
Mas o que vc ensina batendo?? Que o mais forte sempre tem razão??

E pq criança, q é indefesa pode apanhar??? Se seu chefe fizer algo q te desagradou, vc vai dar uma chinelada??

Seu marido enrolou no happy hour com os amigos... aqui vale "palmadinha educativa"??
Eu apanhei e tb já bati e me arrependo profundamente. Não foi correção de maneira alguma e sim uma maneira de eu descontar a minha raiva pela minha incapacidade de educar;;;

Maria Heloisa disse...

Caramba!! alto endico o texto pois é o que realmente penso e que nós temos que fazer é educa e da muito amor e carinho a nossos filhso muito bom kira

Rachel disse...

Olá!! Adorei o texto pq me vi nele. Já apanhei bastante e já bati também. Meu filho tem dois anos e cada vez que eu perco o controle edou um tapa, me sinto péssima, choro, é horrível. É como vc disse, um trabalho de auto-controle longo, de educar todos os dias. Mas... quando eu repito mais de 300 vezes e ele testa... muitas vezes tento respirar fundo, tirar as coisas da mão, pôr de castigo sem o brinquedo, não bater. É difícil a beça, mas vamos tentando. Um beijo.

Coisas de mãe disse...

Parabéns Kira! Violencia só gera violência. É o que vc disse, uma questão cultural. Porém temos que quebrar essa corrente e disciplinar com amor, violência não é um ato de amor.

Isabela Kanupp disse...

Para quem ainda perde o controle, eu também perco vez ou outra - bem menos, quase nunca - mas acredito que é um exercicio eterno de paciência. As vezes, quando vejo que estou chegando ao meu limite, largo tudo e deixo ela fazendo o que for, saio de perto, respiro, me distraio com outra coisa, e funciona. Dai a raiva que as vezes sentimos naquele momento, passa. E podemos tomar atitudes com mais calma!

Beijos gente!

Fabiana disse...

CONCORDO COM CADA LINHA E PALAVRA. CADA UMA DELAS. PARECE EU QUE ESTOU ESCREVENDO.

Principalmente a parte da gente aprender a educar, aprender a não perder a paciência e o controle.

Que consigamos amadurecer um pouco por dia para sermos mães por completo.

Bjos.

Ligia Moreiras Sena disse...

Puxa, Kira.
Isso me emocionou, principalmente a parte em que fala da sua mãe.
Que texto sincero.
Hoje vou postar sobre isso.
É um assunto emocionalmente muito forte pra mim.
Obrigada por ter me mandado o link.

E parabéns pelo esforço em seguir aprendendo. É isso. Pensar antes de agir.

Beijão

Ligia

Priscilla Perlatti disse...

Kira, que texto sincero. Parabéns. É muito difícil pensar antes de agir em pleno momento que a raiva toma conta. Acho que, como mães, temos que nos educar para isso. E como blogueiras, divulgar esse tipo de informação.
Beijo,

Priscilla

Danielle Nóbrega disse...

Acredito que sentir raiva de quem esta te batendo, é um sinal da personalidade de cada um ou erro dos pais na hora de disciplinar. Eu sempre apanhei e muito, mas nunca senti raiva da minha mãe por isso. Pois sempre que eu apanhava, ela me dizia o motivo pelo qual eu estava apanhando, conversava comigo (famosos sermão) e dizia que era errado o que eu tinha feito. Depois, vinham as palmadas, e como eu disse, palmadas, apenas para dizer que eu estava errada e que merecia uma correção. Eu nunca apanhei sem saber o motivo pelo qual estava apanhando. Criança não é como um adulto, entende tudo em uma simples conversa, e depois reflete e tenta mudar, tem que deixar de castigo, dizer que esta errado e o motivo da repreensão/disciplina e se for necessário, dar umas palmadas sim. 3 Palmadas firmes no bumbum, não é sinal de agredir, ser violento. Para isso é necessário a mãe/pai desenvolver o auto controle. Bater com raiva para descontar frustração, a raiva e a vergonha que talvez criança tenha te feito passar, sim, é violência, é errado, é covarde. Jogar na parede, falar palavrões, humilhar com palavras ("seu imprestável", "vc nunca faz nada de bom", " vc é um menino(a) mau", etc)deixar sem comer, etc, isso sim é errado e não educa. Mas palmadas firmes quando a criança fez algo de MUITO errado ou que você já tenha conversado com ela sobre o mesmo erro mais de 2 vezes, sim é disciplinar e educar. Hoje em dia, vemos muito na tv uma "educação" errada, pais que espancam seus filhos e não mostram amor.Isso sim trás revolta para criança e o torna um adulto inseguro e rebelde. É por esses maus exemplos, que essa lei provavelmente, será aprovada. E isso, faz com que distorçam o que é disciplina e tudo o que faz parte dela. Tudo na vida é uma questão de jeito e como é feito. Eu raramente bato no meu filho, ele tem 4 anos de idade, mas quando é necessário, eu dou umas palmadas e não vejo em seus olhos que ele sente raiva, pois ele sabe o motivo que apanhou ou ficou de castigo e digo sempre que é para ele ser alguém educado no futuro. Depois da disciplina eu sempre abraço ele como minha mãe fazia e do mesmo jeito que eu entendia, ele tbm entende. Não vou dizer que é bom apanhar e muito menos bom bater, como eu disse, raramente eu bato, mas as vezes é necessário e faz parte da educação. Falo isso, porque tive primos que era tudo na base da "conversa" e se acostumaram a mãe a passar a mão na cabeça, "ai filhinho, esta errado" e hoje, são eternos problemas para minhas tias. Eu e minha irmã, graças a Deus, só demos motivos para minha mãe se orgulhar. E agradeço minha mãe pelas palmadas, pois, quem ama, educa!

Isabela Kanupp disse...

Danielle, realmente tudo depende de um contexto, situação, a questão de sentir raiva.
Mas concorda comigo que, se sua mãe conversava, te explicava, passava o sermão, não haveria necessidade de te bater?

Sim criança assim como não compreende que está errado o que fez, também não entende que apanhar é uma consequencia da coisa errada que se fez. Uma criança não tem esse raciocínio lógico!

Concordo plenamente que tem de pegar no pé, ter disciplina, dar pequenos castigos se necessário, dar bronca. Mas palmada para mim nunca é justificável.


O fato é, o seu filho não entende o porque está apanhando.
E acredito que sim, exista educação sem apanhar, não aquela coia omissa, passando a mão na cabeça. Mas com disciplina e autoridade. Ser firme nas palavras, ser " bravo ", aqui funciona MUITO bem!

E espero poder dizer daqui alguns anos : É ela é bem educadinha sim. E não precisou levar palmadas.

Carol Liôa disse...

nossa vc descreveu tudo tão bem, olha eu tb fui criada a base de palmadas, muitas palmadas e sentia muito odio, odio mesmo, tenho medo d passar isso p clarice, hj ela tem 9 meses e dou palmadinhas na mão dela quando ñ pode mexer em algo, será q isso aumenta com o tempo? ñ sei, so sei q vou fazer como vc disse, pensar bem antes d agir! adorei o texto! bjs

Thania disse...

Olha, meus parabens pelo post!
Vc escreveu com requintes de detalhes e sabedoria!
Não, não sou a favor tb de bater em filho. Concordo q bater mais humilha do q educa, mas as vezes é a nossa ultima tacada!
Eu nunca bati na Anna, mas chacoalhei. Me arrependi super, me culpei, quase eu mesma me auto chacoalhei!
Depois q fiz isso percebi q eu o fiz por um motivo q eu poderia bater muito nela q nao ia mudar, dai me senti pior ainda!
Alias, eu acho q nao ha motivo suficiente pra isso. Bater nunca ajuda, só atrapalha.Digo mais, banaliza. A criança acaba desrespeitando pq sabe q vai apanhar as vezes nem machuca, e ela ja sabendo disso, nem liga mais!
Nao sou a favor de bater nem de ameaçar.
"se vc nao parar eu vou cortar sua lingua!"
Sério q a criança vai msm acreditar q a mae ou o pai vai arrancar a lingua dela. Tem adulto q adora subestimar a inteligencia da criança! É óbvio qela sabe q isso nao vai acontecer nunca. Dai eu pergunto: Kd a credibilidade?????
Nao ha!

Adorei seu ponto de vista,como sempre.
Ja tentaram me fazer a cabeça contra vc, mas acho seu blog tao inteligente, tao autentico q eu mesma criei uma opiniao sobre vc e prefiro ir pelo q eu penso. Ta valendo mais a pena! ;)

Beijo

@angels_martins disse...

Nossa adorei o texto, me fez relembrar muito a minha infância, tbm apanhei muito, é tbm sinto tudo isso q vc descreveu, não sei o quanto isso contribui para minhas inseguranças da vida adolescente e agora da adulta... mas enfim algo de bom não ficou...
não quero criar meu filho assim ... quero q ele entenda a situação e não tenha medo dela.
bjs
@angels_martins
http://aprendendoasermaedopedro.blogspot.com/

Anônimo disse...

Eu ando estressada, tive dois filhos muito próximos, e amo demais eles, mas ando perdendo o controle e me sinto um lixo por isso.
Estou buscando de todas as formas mudar isso, não é isso que eu quero ser, uma mãe descontrolada, igual a minha que me surrava sem dó nem piedade. Ja procurei psicóloga, estou fazendo tratamento,mas meu Deus como é dificil, só Deus sabe o quanto eu sofro cada vez que perco o controle, mas eu respiro fundo e sigo firme na decisão de ser uma mãe melhor e mais controlada.
As vezes me sinto tão mal que me pergunto pq Deus me deu esses anjinhos, se eu sou um monstro que não esta sabendo fazer direito...perdoem o desabafo,mas eu não aguento mais essa dor, eu não quero fazer mal aos meus filhos, eu quero educa-los e não traumatiza-los...ler suas palavras me deram uma esperança, a mudança vai acontecer,todos os dias eu me policio e reforço minha determinação...
peço a Deus que me ajude...